Dias Chuvosos
15:36
Quem tem Charcot-Marie-Tooth
passa o Inverno bem entretido. São os pés e as mãos que perdem ainda mais
temperatura, as dores - para quem as tem - que aumentam e a chuva que torna o
piso escorregadio tornando o dia-a-dia de quem tem parco equilíbrio numa
verdadeira aventura.
Antigamente, ficava muito
preocupada com o Diogo cada vez que chovia. Uma queda para quem tem uma
cicatrização lenta pode ser muito chata por poder representar uma recuperação
mais longa, o que por conseguinte pode ter resultados nefastos.
Tendo em conta que o destemido
rapaz faz uso das próprias pernas e vai sozinho para a escola, apanha
autocarros e comboios, acerta o passo na bela calçada de Lisboa entre
trauseuntes apressados adivinhando-se uma queda ali e acolá, a chuva torna a
possibilidade muito mais concreta. Lembro-me que cada vez que chovia lhe telefonava,
vê lá que está a chover, vai com cuidado.
Não caias. Tens os foot-ups? O Diogo diz que tem um trato com o S. Pedro. Era comum terminarmos estes telefonemas a rir
porque quando começava a chover onde eu estava, normalmente não chovia onde ele
estava ou ele tinha acabado de entrar na escola. Sempre são e salvo, sempre seco.
Para quem conhece o Diogo sabe que ele é um autêntico Gastão. Ainda bem.
Não obstante, no início ainda
usava guarda-chuva. Procurei guardas-chuvas resistentes, com apoio mais macio,
mais cómodo, com ponteira mais larga para que não escorregue tanto quando o usa
como bengala. Deixou-se disso. Perde-os e parte-os todos. Além disso, mãe, não imaginas como é perigoso ter de
segurar o guarda-chuva enquanto tiro a carteira para mostrar o passe ao
motorista do autocarro e tentar aguentar-me enquanto as pessoas empurram para
entrar. Na rua já não basta ter de ter atenção onde ponho os pés, ter a mesma
atenção às pessoas que passam a correr, dão encontrões e ainda ter de gerir o
guarda-chuva. Prefiro andar à chuva.
Ah, bela adolescência! Entrega os
cabelos ao vento e saboreia o momento. Dança à chuva e troca-lhe as voltas!
Naturalmente, andar à chuva não é
uma solução para todo o sempre. Mas por agora serve-lhe. Há equipamentos.
Kispos giros e afins. O que interessa é o agora. O que interessa é a atitude.
Que bom que era que desacelerássemos
todos o passo, que os passeios fossem mais largos, que não nos atropelássemos
nos corredores do quotidiano.
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