A diferença é natural
19:36
Como explicar a diferença às
crianças? Ou melhor, como fazê-las conviver com um mundo onde a diferença pode
ter formas disformes e onde o ideal de beleza não existe?
Quando Diogo foi diagnosticado a
pequenita tinha cerca de 6 meses. Além de ter de gerir a entrada consciente de
uma criança de 10 anos num universo hospitalar/de tratamentos que lhe era novo
até à data e que agora se lhe tornava num pertence, tinha uma bebé que também ia
conviver com essa realidade.
Fiz como faço sempre. Levo os
meus filhos para todo o lado onde vou. Acompanham-me em quase tudo e desta vez
não iria ser diferente. A Matilde entra na ala de tratamento ambulatório pediátrico do
Centro de Medicina de Reabilitação Física – instituição que assusta muitos
crescidos - e acompanha os tratamentos
desde o início. Vê meninos com próteses, sem pernas, meninos cuja fala é
enrolada, que se babam, que usam andarilhos. Desde sempre, assim como vê as
restantes pessoas desde sempre. As pessoas além terem olhos castanhos, serem
altas, usarem camisolas de lã ou de gola alta, podem usar cadeiras de roda, ter
os pés deformados. Todos perfeitamente imperfeitos ou não fossemos humanos.
Conforme foi crescendo foi
apontando e fazendo perguntas. Eu respondo a todas, não escondo nada,
simplifico e suavizo o vocabulário e explico que apontar em situação alguma é
coisa bonita. Mas não deixo de dizer que o menino x não tem pernas por A ou B
razão ou simplesmente porque nasceu assim. Eu, por exemplo, tenho umas belas orelhas de Elfo, o pai tem o nariz ligeiramente inclinado e todos cá em casa
temos um parafuso a menos. Felizmente!!
Eu também pergunto. Quando não
sei, pergunto. Por vezes, até peço para tocar/mexer para receber a informação
sensorial. Não deixo, por vezes, de receber um olhar de estranhamento, de
surpresa. Mas nunca ninguém mo recusou e no fim ficamos todos com um sorriso
nos lábios.
Em Alcoitão, enquanto o Diogo faz o seu tratamento, a Matilde aproveita para brincar com os brinquedos que lá estão, brincar com os meninos que podem ter ou não perna e até já ajuda na hidroginástica.
A minha pequenita vive agarrada
ao lápis e ao papel. Vai ser uma pintora, diz. Dos seus desenhos fazem parte
todas as realidades. É maravilhoso de observar e de sentir no coração!
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