Futuro, quantos queres?

17:09



A minha mãe sempre me ensinou a não ter medo do futuro, podemos recomeçar do zero, outra vez e outra vez / nunca tenhas medo de ir atrás do que é teu. Nunca deixei de ir, apesar do medo apertar o estômago. Lá fechava os olhos, enchia o peito de ar e seguia em frente ainda que, por vezes, em silêncio, ninguém se apercebesse da minha decisão e acção.

Foi um ensinamento que me serviu de muito e que passo aos meus filhos sempre que eles precisam que lhes lembre – ainda eu vou precisando também que mo lembrem. Ensinou-me a acreditar em mim e na vida, por mais estranha e torta que esta se mostre.

Na faculdade, lembro-me de alguém nos dizer, vocês não estão a estudar para serem  professores, estão a tirar uma licenciatura em A e mais tarde poderão aplicar a B, C, Y ou Z, assim como a Matemática Aplicada. Já não consigo precisar se as palavras se concantenavam por esta ordem, mas lembro-me da frescura da ideia, do pensamento já que todos - até à data e ainda hoje -  vão tirar a licenciatura x para terem unicamente a profissão z e depois quando a vida não corre como imaginavam nem pegar na bússola sabem.

Estas duas premissas tornaram-se tijolos basilares da minha postura face à vida: posso sempre começar, logo não preciso de ter medo de cair; o meu saber não é fechado, posso reiventá-lo aplicado a qualquer coisa e reiventar-me sempre que necessário. Uma receita simples que precisar de ser consciencializada diariamente até se nos tornar intríseca, como quem vai ao ginásio. Uma receita que aprendi a desconstruir para transmitir seja a miúdos ou graúdos, meus ou de outros.

Aos meus filhos e alunos digo-lhes que para profissão escolhem algo que os faça feliz, mas que para tal tem que trabalhar o triplo, já que fazer o que se gosta é um luxo, além do dinheiro que temos de garantir no fim do mês para que não falte o pão em cima da mesa.

Perante uma doença degenerativa e um miúdo que toca piano desde os 5 anos, que até aos 10 não conhecia outra realidade não é diferente. Lembro-me que uma das minhas primeiras reacções foi: então e o piano, como é que vai ser? Sou daquelas que primeiro se assusta e faz um alarde - mais ou menos discreto; conforme o momento - mas depois acalma-se e olha com realismo para a situação e para a solução. Lá me lembrei da licenciatura x que pode ser aplicada a Z, B, Y, G e lá lhe ensinei que a música é um vasto universo e que tocará até que as mãos lhe doam e permitam, que existe o Jazz que é uma linguagem mais livre que o Clássico, que existe a Composição e por aí fora.

Não estávamos sozinhos. Na Escola de Música do Conservatório Nacional temos encontrado massa humana da boa. Ah, bela colheita! E têm-nos ajudado a suavizar muitíssimo esta descoberta que se faz todos os dias.


Falo muito de Alegria e de Felicidade e tenho em mim guardada a responsabilidade de ensinar os meus filhos a encontrarem a sua, mas cá em casa não andamos sempre aos pulos e nem vemos sempre arco-íris no fundo do horizonte. A Alegria e a Felicidade também dão trabalho, temos de a contruir diariamente nas atitudes e decisões. E quando o futuro nos troca as voltas, aprensentamos-lhe o plano A e quando esse já não servir, já temos o plano B e se esse não encaixar bem no que precisamos, fazemos recortes e remendos e continuamos em frente!

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